Thursday, March 31, 2005

Joe Enguia B. Goode

Go Joe! Go Joe! Joe Enguia B. Goode!

Joe emergiu do sono tal e qual o titanic afundado. O ruído vinha do andar de baixo, alguém tentava por o gira discos a funcionar... com um disco do Peter Tosh, e em particular uma música celebrizada pelo Chuck Berry. Alguém tinha-lhe estragado a parte em que acabando um concerto em estado de euforia máximo, saíria concerteza do salão de dança com dois pares de implantes de silicone, um louro e outro moreno. Mas o que fazer? alguém tinha utilizado machado neste final "desinfeliz". Como diria o seu amigo brasileiro, conhecido num cruzamento de hamburgers e sprite: "Nesta vida é preciso garimpar". O sol já se escondia entre os passaros e os peixes do atlântico. Joe abriu o cortinado e foi cravejado por mil e dezanove fotões de Einstein, o que lhe permitiu transitar do nível energético FG para o XF. Dois pombos interrompidos num acto de infidelidade conjugal esvoçaram do peitoril lembrando a Joe o que o levara a acordar. Abriu a porta e parecia uma reunião familiar, a que estava habituado desde pequeno, só tios estavam perto de uns trinta, já contando com uns incrivelmente novos que a avó lhe tinha apresentado na noite anterior. As amigas da mãe, que a ajudavam no funcionamento do "Engole depressa", estavam vestidas com bonitas saias vermelhas e tops pretos, ajeitavam os lábios ao baton que ultrapassava o lábio inferior pela via de cima. Os tios divertiam-se numa jogatana de póquer regada em Jameson e Havana Club (sem gelo!). E de volta do gira discos estava a avó, a mãe e o ucraniano (Pav love) a desesperarem aos gritos uns aos outros ...porque o raio do gira discos tinha mais anos que a república e o Pav não "tinha meio" de o concertar...a mãe ameaçava despedir o homem sportbilly se ele não conseguisse por a tocar a Abertura em Mi menor do Barbeiro de Sevilha.

E foi assim, que despertando do sono da tarde, Joe Enguia desceu para o andar de baixo do bar e serviu-se de uma dose dupla de Havana Club (porque os cabrões dos cubanos tinham de ter algum segrredo naquele serviço nacional de saúde...e a chave parecia-lhe ser o Ron). O dia tinha começado...

Friday, March 25, 2005

Joe Enguia...aqui vamos nós

Joe Enguia...é verdade foi encontrado morto na sua cama, mas muitos anos depois de ter atracado em Portugal, vindo das Américas. De facto, Joe Enguia morreu exactamente no dia em que fez 69 anos e se deu ao privilégio de desfrutar de duas pequenas hungaras; JE morreu ao tentar completar uma série de 20 seguidas, aproveitando ao máximo o elixir dos comprimidos azuis. Mas esses são outros tempos, que não me interessam discutir para já.

Enguia tinha de facto tido sorte e o chumbo tinha permanecido no tambor do revólver. Posso confidenciar que depois deste desconcurso, Joe agarrou numa revista deixada por um dos tios em cima de uma das cadeiras, dirigiu-se à casa de banho e conseguiu convencer as suas amigas formigas saltitantes que hoje não era um bom dia para tentar outra vez (Enquanto ouvia um belissimo "Five to one").

Sunday, March 20, 2005

Cenas dos expisódios anteriores

Como grande sucesso comercial, Joe Enguia ...teve "direi-to" a um blog só dele... vamos a ver... os episódios anteriores, previamente publicados noutro blog, já aí estão, vamos a ver se lhes dou uns "toques" e prosseguir, evitando o desastre de um suicídio... ou terá sido um assassinato?

Joe Enguia suicida-se?

Tal como Borges afirma, o Aleph existe! Foi com esta convicção que Joe Enguia se levantou nesse dia, e à semelhança do escritor de Mar da Fertilidade, decidiu celebrar a cerimónia de seppuku. Nesse dia ao erguer-se de manhã do seu caixão, Joe tinha visto o ponto onde todos os pontos se encontram e vislumbrou que a vasta maioria dos seus concidadãos apenas se regravam por mentores, mestres ou elevadas eminências, deixando de lado uma coisa que era o próprio pensamento, aquilo que se chama de ideologia. Para quem desconhece o significado de tal palavrão, o que já tive oportunidade de constatar!, aqui lhe disponibilizo a definição (e deixem-se de lamechices, tipo, para mim ideologia é outra coisa....tipo “mais conceptual”...),

*****************************************************

Segundo um dicionário (não muito bom), Ideologia é:
do Gr. idéa + lógos, tratado
s. f.,
ciência que trata da formação das ideias e da sua origem;
conjunto de ideias, crenças e doutrinas, próprias de uma sociedade, de uma época ou de uma classe, e que são produto de uma situação histórica e das aspirações dos grupos que as apresentam como imperativos da razão;
sistema organizado e fechado de ideias que serve de base a uma luta política.

*****************************************************

Pois é, Joe tinha concluído que esses concidadãos apenas ..... ok, apenas....
E foi então que Joe Enguia abriu a gaveta da sua mesinha de cabeceira, e sacou a arma "cerebralizada" por James Puckle. Já não podia esperar mais, e enfiou apenas uma dose de chumbo numa das culatras do cilindro giratório, e ao jeito de um carrossel fê-lo bailar, reproduzindo uma curiosa música de fundo (ao jeito de um verdadeiro western spaghetti). Mordeu o cano, fechou os olhos, e premiu o gatilho para ver se a sorte mudaria no futuro.
Joe Enguia foi encontrado morto na sua cama.

Joe Enguia e os Intelectuais Conimbricenses (e arredores)

Tendo acabado de enfardar três bifanas (a navegarem em mar de maionese, mostarda e ketchup) e bebido um litro de...Coca-Cola, Joe Enguia sentia-se semelhante a um barril. Era o seu primeiro almoço na sua pátria natal, e como tal tinha-se premiado com uma bifana bónus, "a cereja em cima do bolo". À semelhança de um camião TIR por uma estrada secundária, assim se movimentou o nosso personagem entre os tachos e panelas esquecidos na cozinha até atingir a sua meta: "o SOFÁ". A vóvó e a mãe estavam a discutir qualquer coisa acerca do modo de comportar de um dito irmão, o modo como ele falava, os valores que ele tinha... ou que dizia que tinha, os seus interesses da vida, os seus ideais,...(enfim qualquer coisa do género "à boa maneira Portuguesa"). Enquanto os seus parentes se levantaram e se dirigiram a jeito de um TGV português para a cozinha, Joe começou a ter um pseudo-pensamento, daqueles tipo bola de sabão:
«Tenho de alterar a minha maneira de agir, estes gajos andam mais à frente, parecem uns verdadeiros intelectuais»
E decidiu cortar, do mesmo modo que a guilhotina francesa o fez à cabeça de Luís XVI, aquele jeito que tinha comprado nas Américas (Eu sou bom, Eu sou muito bom, Eu sou mesmo muito bom) e passar a gritar em discussões futuras a Lei de Einstein: «tudo é relativo». Deste modo, tinha pregado na sua cabeça uma tabuleta: «Eu posso não ser bom mas tu és muito pior»; «Eu sou incrível, magnífico, mas apenas porque ele não vale nada».....assim se fez o upgrade de Joe Enguia para um verdadeiro "português contemporâneo" ou melhor num intelectual Conimbricense e arredores.

Joe Enguia em "Almada Negreiros & Ary dos Santos"

O sol após ter trespassado os cortinados cor de sangue (de velho de 80 anos) embateu na mona de Joe Enguia, obrigando-o a abrir as pestanas muito antes do que lhe apeteceria em dias normais. Era o dia do seu regresso. Rebolou para o lado direito e apanhou um livro intitulado "Ultimatum Futurista - às Gerações Portuguesas do Século XX". Abriu ao calhas e começou a ler a página 6:

"...Eu não tenho culpa nenhuma de ser português, mas sinto a força para não ter, como vós outros, a cobardia de deixar apodrecer a pátria

Nós vivemos numa pátria onde a tentativa democrática se compromete quotidianamente. A missão da República portuguesa já estava comprometida desde antes de 5 de Outubro: mostrar a decadência da raça. Foi sem dúvida a República portuguesa que provou conscientemente a todos os cérebros a ruína da nossa raça, mas o dever revolucionário da República portuguesa teve o seu limite na impotência da criação. Hoje é a geração portuguesa do século XX quem dispõe de toda a força criadora e construtiva para o nascimento de uma "nova pátria inteiramente portuguesa e inteiramente actual" prescindindo em absoluto de todas as épocas precedentes..."

Era muita leitura para Joe, estas frases mantinham a sua necessidade em literatura por um bom par de anos. De qualquer forma, a dúvida tinha nascido, quem seria este "ma man" que até sabia juntar umas frases e quiçá umas letras? olhou, olhou... e só depois reparou no fundo da capa ".... por José de Almada-Negreiros". Alimentado pelo seu novo saber e conhecimento de umas palavras novas, Joe num ápice lavou a cara, vestiu os jeans coçados, uma t-shirt com o M, da companhia de M....armelada, gravado nas costas e assomou-se, do varadim, ao centro do pseudo-bar. Estavam nessa mesma altura a tentarem acordar o poeta, cujo retiro se situava a três longinquas casas abaixo. E foi então que de súbito, acalentado por um espasmo alcoolico, levantou-se, subiu para a mesa de um só salto e gritou:

"
Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.
Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.
Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.
Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.
Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...
Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro as milhões.
E diz o inteligente
que acabaram asa canções"

e rematou a dizer : "Gostava de um dia escrever um poema assim!". Saltou da mesa, e ainda ninguém sabe bem como, mas aguentou-se nas pernas embebidas em alcool e como se tivesse saido de uma viagem longa barco saiu a cambalear pela porta fora.

P.S: Ary dos Santos 1937-1984

A história de Joe Enguia e as formigas saltitantes

O nascimento do Joe Enguia

A música estava a tocar (um daqueles novos grupos de retro-swing)... O cenário era engraçado, num palco duas meninas abanavam as formosas pernas, no balcão três bêbados faziam estatística acerca do tempo que a cerveja demorava a chegar à bexiga, o barman utilizava um palito como picareta nos dentes escurecidos - a música continuava a tocar -, das dez mesas que compunham o outrora proeminente "Engole depressa", apenas duas estavam ocupadas. Uma delas, entre copos de whisky e rum, servia de delicado leito a um poeta da rua, na outra estava sentado um menor de idade que por ser a centésima terceira vez que pedia para ver a tia a dançar lá o tinham deixado entrar. O rapaz devia ter uns quinze anos, obeso, borbulhas na cara, ... entre outras características da idade, mas os seus olhos saltitavam de alegria ao ver as nádegas da companheira de dança da tia.

E foi assim que Joe Enguia, com um pontapé na porta, entrou no pitoresco estabelecimento (sempre com a música a tocar). Joe Enguia, Joe da parte da Mãe (o pai tinha virado travesti...circunstâncias do negócio) e Enguia da parte da avó (a mãe verdadeira). Joe era esquizofrénico e como tal "andava" sempre acompanhado das suas anónimas amigas e companheiras de aventuras...as fabulosas Formigas Saltitantes. Ninguém, excepto o poeta que gritou "ponham essa merda mais baixo", mas mesmo ninguém ... excepto as senhoras que tinham arrendado os quartos no primeiro andar do bar (assim era a história que tinha sido vendida ao inocente sobrinho), mesmo mesmo ninguém ... excepto a própria porta que adquiriu uma ondulatura criativa, se importou com a entrada deste personagem. Mesmo assim foi engraçado ouvir (com a música sempre a tocar):

-"PAM"
-"Ponham essa merda mais baixo"
-"A bófia?! outra vez?! Cindy hoje és tu a atendê-los"

-"Como gostamos de voltar a casa!".

Joe Enguia regressava de uma viagem às américas para onde tinha fugido a seguir à queda do muro de Berlim. Um dos seus trinta tios tinha lhe dito que aquilo ia ser como um rebentar de uma represa, os comunistas iriam alagar o resto da Europa e iam-no obrigar a arranjar trabalho ou então comiam-no assado no espeto....passados todos estes anos, recebeu uma carta da mãe a dizer que um dos seus client.... irmãos estava num cargo do governo e que estaria disposto a arranjar-lhe um trab... ocupação. Enquanto aos comunistas que não se preocupasse que tinha arranjado um astrofísico ucraniano para lavar pratos, servir à mesa, consertar canalizações, remendar o telhado, entregar recados e fazer compras para o bar. Pelo que os tinham metido no seu devido lugar.

Assim começou a história de Joe Enguia...